quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Foi assim...

Eu emigrei quando o António Guterres era Primeiro Ministro. Não sabia que estava a emigrar, mas também ninguém sentiu a minha falta em Portugal. No entanto, hoje contribuo para o PIB português, já o faço há muitos anos, e nem sequer estou aí. O Nicolau Santos, no Expresso, acha que a emigração está a tramar o PIB. Isso não é verdade, pois Portugal entrou em colapso antes do surto de emigração. E Portugal entrou em colapso porque o PIB não cresceu o suficiente para acompanhar a dívida. Ou seja, estamos ainda na mesma como a lesma: o PIB não cresce, há desemprego, as pessoas emigram. É essa a ordem de causalidade.

Se as pessoas não tivessem emigrado, como é que contribuiriam para o PIB num país com alto desemprego, baixos salários, e grande dependência de apoios do estado? Não foi o nosso Ministro das Finanças que disse que quem tem €2000/mês está numa posição privilegiada? Acham que não é fácil alguém português qualificado trabalhar por muito mais do que isso em muitas partes do mundo? Quando se vive num país com fronteiras abertas, temos de olhar para o mundo e não apenas para Portugal. Isso é que está a tramar o PIB: políticas que ignoram o que se passa no mundo.

1 comentário:

  1. Penso que o racional é o seguinte: todo o investimento no estrangeiro que não traga retorno direto significativo ao país vai contribuir para diminuir o PIB. Formalmente está correto, e ser capital humano em vez de outro tipo de capital não faz diferença. Assim como o ministro das finanças está formalmente correto ao dizer que quem EM PORTUGAL ganha 2000€/mês está numa posição de rendimento acima de 80% dos restantes.

    Claro que se pode argumentar contra as duas posições: capital "mal usado" (por razões internas ou de contexto - que incluem paradoxalmente o próprio facto da sociedade ter pouco capital) pode criar retornos para o PIB inferiores ao investimento externo/emigração.

    E pode-se dizer que comparações internas para determinar o privilégio ignoram o facto de que numa sociedade globalizada as pessoas não se comparam só com os vizinhos diretos mas (e até principalmente) com os supostos "homólogos" que vêem nos media (e deve ser dito em abono do ministro que ele não disse o que disse sem ressalvar justamente esse facto).

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