terça-feira, 1 de agosto de 2017

Alberto Giacometti



O Geoffrey Rush vai representar o papel de Alberto Giacometti num filme biográfico do artista. O Giacometti é famoso pelas esculturas elongadas e, pode parecer estranho, mas entrar numa sala com esculturas dele, causa-me uma grande emoção. Quando entrei nesta galeria, na National Gallery of Art, em Washington, D.C., até fiquei sem palavras. No The Guardian podem ler mais sobre o filme.

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Eu ia para vos escrever o que escrevi acima, mas achei uma merda, como se estivesse a trair algo sagrado e não consegui publicar. Meti em rascunho, fiz o jantar e fui passear o cão. O que escrevi é tudo verdade: dá-me um baque no coração quando vejo uma escultura dele, mas sinto também uma onda de felicidade invadir-me, um sorriso instala-se nos lábios, e eu penso que quero estar ali ao pé daqueles objectos.

Não lhes posso tocar, mas eles tocam algo de muito profundo em mim e é como se o tempo parasse e ali fosse o centro do universo por uns momentos. Quando fui à National Gallery of Art estava com a L. e ela também sentiu aquela emoção. Eu sei porque nós entrámos na galeria e ela disse "Oh my God, I love him!" Quando se está ao pé da L. e ela se emociona, sinto o tempo parar.

Durante anos, sempre que a L. falava de Rothko, Kandinsky, Miró, Dalí, etc. não me dizia nada. Eu achava giro que ela se interessasse,mas eu nunca tinha pensado muito em arte ou talvez nunca tinha deixado que me tocasse o íntimo. Quando a visitei em Fort Myers, na Florida, ela deu-me duas opções: irmos a Miami ou St. Petersburg, que para mim era uma escolha entre visitar o Atlântico ou ir a Museu Dalí. Nessa altura eu morava no Arkansas e já não via o Atlântico há quase quatro anos. Já se começava a instalar em mim uns traços de loucura e chorava pelos cantos da casa às escondidas por estar tão longe do mar. Era uma morte lenta e sentida: seria impossível ir a St. Peterburg ver Dalí porque eu precisava de ir ver o meu mar.

Fomos a Miami e quando eu vi a imensidão do azul descobri algo sobre mim: é a espuma do Atlântico que me cativa e eu senti-me uma traça que, em vez de ser atraída pela luz, é atraída pelo Oceano Atlântico. Os outros mares não me fazem isto. Certamente que o Golfo do México, normalmente tão calmo e de água tão morna, me diz pouco, mas diz-me o suficiente para eu não enlouquecer de vez e não posso dizer que não é bom estar ao pé do Golfo. Antes isto do que nada...

Depois veio a arte e talvez tenha compensado o facto de o Golfo do México não me dizer assim tanto, mas eu mergulhei no mundo da arte como se a minha sobrevivência dependesse disso. Talvez dependa porque sinto-me tão viva a olhar para certas peças, sinto uma atracção tão grande, uma felicidade que mal posso conter.

Vocês podem pensar que é ser elitista ou ter a mania que se é bom, mas não é isso; é exactamente o oposto. É a percepção de que há algo que falta em nós e cuja falha tem de ser colmatada -- é uma bóia de salvação e quando nós sentimos que estamos à deriva, ou prestes a afogar-nos, entregamo-nos à bóia porque é o que nos pode manter vivos.

E é isso que eu sinto quando estou ao pé de uma peça de arte que me toca: é uma coisa que me puxa para a vida, que não me deixa afundar. Há uma certa sofreguidão ao estar ao pé da peça e ao falar dela -- é a mesma coisa que acontece quando vemos alguém agarrar-se à boia: um amor profundo à vida. A esculturas do Alberto Giacometti fazem-me amar a vida. E desta última vez em que estive com a L. e lhe falei das obras de arte de que eu gostava, ela sentiu que algo em mim tinha mudado e, por alguns momentos, olhou para mim em silêncio a admirar a mudança.



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